
Mês do Sagrado Coração de Jesus
Meditação – Mês do Sagrado Coração de Jesus – 13º dia
Santo Afonso Maria de Ligório
13 Jun 2025
Tempo de leitura: 8 minutos
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Vamos ao Getsêmani; ali acharemos o Coração de Jesus cheio de temor.
O suor de sangue que Nosso Senhor teve no Jardim das Oliveiras, não se pode explicar senão por um violento aperto do coração, que suspendeu a corrente do sangue e o forçou a derramar-se fora; e este aperto de Coração de que Jesus foi então salteado, não provinha com certeza de outra causa que das penas interiores de temor, desgosto e tristeza, que ele padeceu, segundo a narração dos evangelistas: Caepit pavere et taedere… et maestus esse. (Mc 14,33)
O temor lhe vinha da vista de seus tormentos; o desgosto, da inutilidade de seus padecimentos para muitas almas; e a tristeza, da imensa dor que ele teve de nossos pecados. O Coração de Jesus começou então a sentir grande temor da morte e dos tormentos que devia dali a pouco sofrer; Caepit pavere. Mas como! Não era ele quem se oferecera de bom grado a tais padecimentos? Não era ele que tinha tão ardentemente desejado o tempo de sua Paixão, como pouco antes havia declarado? Como então está agora tomado de tão vivo temor da morte, que chega até a pedir a seu Pai para que lhe poupe de tão dolorosa angústia: Meu Pai, se é possível passe de mim este cálice (Mt 26,4).
Primeiro, Jesus Cristo quis por este meio nos mostrar que ele era verdadeiramente homem, diz o venerável Beda. Este Senhor cheio de ternura não recusava de modo algum morrer: ele aceitava voluntariamente a morte para nos provar seu amor; mas, para que os homens não pensassem que ele tinha tomado um corpo fantástico, como certos hereges disseram nas suas blasfêmias, ou que, pela virtude de sua divindade, morrera sem dor alguma, dirigiu a oração a seu Pai não para ser atendido, mas para nos fazer compreender que ele morria como homem com grande horror da morte.
Em segundo lugar, este temor provinha da previsão dos horríveis tormentos que lhe eram preparados. Jesus previa que seria atormentado em todos os seus sentidos; no tato, todas as suas carnes devendo ser laceradas; no paladar, pelo fel e vinagre; no ouvido, pelas blasfêmias e irrisões; na vista, vendo sua mãe que assistiria a sua morte. Previa que todos os seus membros seriam atormentados: sua cabeça sagrada, pelos espinhos; suas mãos e seus pés, pelos cravos; seu rosto; pelas bofetadas e escarros, e todo o seu corpo pelos açoites, exatamente como Isaias predissera. Este profeta tinha anunciado que nosso Redentor seria, na sua Paixão, semelhante a um leproso, cuja carne não tem parte alguma e causa horror ver-se, não oferecendo ao olhar senão chagas das cabeças aos pés. (Is 53). Ele previa então que ia tornar-se o Homem das dores.
Também pode-se aplicar justamente ao Coração de Jesus este texto de Jeremias: Vossa aflição é semelhante ao mar. (Thren 2,13). Assim como todas as águas vão se lançar no mar, assim também reuniram-se no Coração de Jesus, para o afligir, todos os padecimentos dos enfermos, todas as austeridades dos anacoretas todos os tormentos dos mártires. Ele foi saciado de dores, de modo que podia dizer a seu Pai estas palavras do Profeta Rei: Meu Pai, fizestes passar sobre mim todas as ondes de vossa ira.
E em que condições se achava o Coração de Jesus entregue as imensas angústias de então? Apesar de todas as repugnâncias da natureza, ele submetia-se inteiramente a vontade de seu Pai: Meu Pai, não cessava de dizer ele, faça-se a vossa vontade e não a minha. Quando padecemos aflições de espírito, e Deus nos priva de sua presença sensível, unamos nossa pena a do Coração de Jesus no Jardim das Oliveiras. Algumas vezes o Senhor se oculta aos olhos das almas dele mais amadas, mas não se aparte de seu coração, e continua a suste-las interiormente pela graça. Jesus não se ofende se lhe dizemos, nesse abandono, o que ele mesmo dizia no Jardim de Getsêmani: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice!
Mas então é necessário ajuntar logo com ele: contudo faça-se a vossa vontade e não a minha! E se a angústia continua, é necessário também continuar a repetir este ato de resignação, como Jesus, durante as três horas de sua agonia: Ele orou pela terceira vez, repetindo as mesas palavras. Os atos de resignação são os atos de amor mais caros e agradáveis ao Sagrado Coração de Jesus. São Francisco de Sales diz que Jesus, quer se mostre quer se oculte, é sempre igualmente amável. Enfim, quem merece o inferno e se vê livre dele, só uma coisa tem que dizer: Senhor, louvarei vosso nome em todo o tempo, não sou digno de consolações; concedei-me a graça de vos amar, e consinto em viver no meu padecimento pelo tempo que vos aprouver. Ah! Se os condenados pudessem, nos seus tormentos, conformar-se com a vontade de Deus, seu inferno deixaria de o ser.
Prática
Habituar-me-ei a repetir, em todas as contrariedades que me sobrevierem, o que dizia o Coração agonizante de Jesus: Faça-se a vossa vontade, ó meu Deus, e não a minha.
Afetos e Súplicas
Divino Redentor meu, Vós estais nas agonias da morte, e orais; dizei-me: por quem tanto orais? Ah! Se orais nesse momento não é de tanto para vós como para mim: vós ofereceis ao eterno Pai vossas poderosas súplicas unidas as vossas dores; para obterdes para mim, miserável pecador, o perdão de meus pecados. Terno Salvador meu, como vosso Coração divino pôde amar tanto a quem tanto vos ofendeu? Como pudestes aceitar tantos padecimentos por mim, vendo desde então a ingratidão que eu usaria convosco?
Eu vos suplico, ó meu Coração afligido de meu bom Senhor, fazei-me participar da dor que então sentistes de meus pecados; o horror que agora experimento uno ao que então experimentastes no Jardim das Oliveiras. Não olheis para meus pecados, o inferno seria muito pouco para puni-los; considerai os tormentos que padecestes por mim.
Ó Coração cheio de amor de meu Jesus, vós sois meu amor e minha esperança. Eu vos amo de toda a minha alma e quero vos amar sempre. Ah! Pelos merecimentos do desgosto e da tristeza que padecestes no Jardim, concedei-me o fervor e a coração de trabalhar para vossa glória. Pelos merecimentos de vossa agonia, dai-me a força de resistir a todas as tentações da carne e do inferno; fazei-me a graça de nunca cessar de me recomendar a vós, e repedir sempre seguindo vosso exemplo: Meu Pai, faça-se a vossa vontade e não a minha!
Oração Jaculatória
Ó Coração amante de Jesus, fazei que a minha vontade seja inteiramente unida a vossa.
Exemplo
Entre os verdadeiros amigos da mocidade tem direito a ser colocado em primeiro plano o grande servo de Deus, M. João José Allemand, morto em 1836. Este digno sacerdote da diocese de Marselha consagrou toda a sua vida a obra da mocidade, e a despeito de todas as dificuldades que encontrou nesta empresa, jamais se desanimou. A fonte de sua coragem achava-se na terna devoção que ele professou sempre ao Sagrado Coração de Jesus. Ao Sagrado Coração é que ele referia toda a glória de sua obra. Ele dizia com humilde sentimento de alegria:
«Conheço muita gente; todos os que tem viajado noutros países dizem que nunca viram uma instituição para a mocidade como a nossa. Praza a Deus não nos gloriemos disto! Todas as graças que Deus derrama sobre nós, ao Sagrado Coração é que as devemos.» E ajuntava: «Nós fomos fundados pelo Sagrado Coração!»
Allemand rezava cada dia o pequeno ofício do Sagrado Coração. Muitas vezes viam-lhe nas mãos ou sobre o peito um livrinho que continha este ofício, e cujas folhas atestavam o diuturno uso que dele fazia. Em grande estima tinha o nosso sacerdote a seguinte jaculatória:
Sagrado Coração de Jesus, tende compaixão de nós!
E tinha acostumado seus discípulos a se servirem dela, para se saudarem mutuamente. Allemand não falava jamais do Sagrado Coração de Jesus senão com transportes de amor, com palavras inflamadas, e às vezes com tal comoção que difícil lhe era conter.
Num domingo, por ocasião da benção do Santíssimo Sacramento, tendo chegado a estas palavras da oração do Sagrado Coração: Et injurias eidem sacratissimo Cordi ab ingratis hominibus illatas, que significam: Fazei que possamos reparar as injúrias feitas a este Coração adorável pelos homens ingratos, ele viu-se de tal modo oprimido pelos sentimentos de dor e amor que inundavam sua alma, que se desfez em lagrimas e não pôde terminar a oração, nem entoar o Tantum ergo.
Assim ficou ele algum tempo em silencio, cobrindo o rosto com as mãos para esconder as lagrimas. No seu leito de morte, disse a dois de seus discípulos:
«Fazei por mim uma novena ao Sagrado Coração. Sim, fazei esta novena; tenho grande confiança no Sagrado Coração!»