
Doutrina
Como o Modernismo Se Infiltra na Igreja
Comunidade Ignis
01 ago. 2025
Tempo de leitura: 3 minutos
COMPARTILHE:
A encíclica Pascendi Dominici Gregis, de São Pio X, não foi escrita como um tratado acadêmico sobre uma heresia do passado, mas como um grito de alerta profético. Em tom pastoral e combativo, o Papa denunciava o surgimento de uma nova e mais insidiosa heresia: o modernismo. Diferente das heresias clássicas, que geralmente confrontavam doutrinas específicas (como o arianismo ou o pelagianismo), o modernismo era, segundo o Pontífice, “a síntese de todas as heresias” (n. 39).
A gravidade do modernismo se revela, antes de tudo, em sua penetração nas estruturas eclesiais. Já não se trata de ataques de fora contra a fé católica, mas de uma contaminação interna, sorrateira, operada por clérigos, teólogos e professores que, sob o pretexto de atualizar a fé, dissolvem seus fundamentos. São Pio X escreve com dor:
“É preciso reconhecer que os fautores do erro se encontram não apenas entre os inimigos declarados da Igreja, mas também no seio e no coração da própria Igreja, e tanto mais perigosos quanto menos se deixam perceber.” (n. 2)
O modernista típico se apresenta como homem de piedade, zeloso da caridade, tolerante e até humilde. Mas por trás desse verniz se esconde uma mente racionalista, presa a filosofias imanentistas e relativistas. Ele não nega diretamente os dogmas, mas os reinterpreta, redefine, adapta ao “espírito do tempo”, fazendo o dogma se dissolver em experiência subjetiva.
O modernismo não se propaga por confrontação, mas por infiltração. Age com linguagem ambígua, sempre aberta à dupla interpretação. Isso o torna especialmente perigoso, pois não combate a doutrina católica de modo frontal, mas pretende “corrigi-la”, “atualizá-la”, “abrir-se ao mundo moderno”.
“Guardando a aparência de submissão, na realidade eles procuram subverter tudo: a fé, a filosofia, a teologia, a exegese, a história, e por fim, a própria disciplina da Igreja.” (cf. Pascendi, n. 34)
O modernista tem horror à clareza dogmática. Ele prefere a fluidez das fórmulas abertas, dos “processos sinodais”, das “interpretações pastorais” — tudo o que permita manter a aparência de ortodoxia enquanto se vai lentamente minando a fé do povo de Deus.
Se o modernismo fosse apenas uma corrente teológica equivocada, já seria grave. Mas sua raiz é mais profunda: está fundada em uma desconfiança radical em relação ao sobrenatural. Por isso, seu fruto final é a apostasia prática: uma religião naturalista, horizontal, terapêutica — sem dogmas, sem mistério, sem conversão.
“A causa de todos os erros modernistas é o abandono da verdadeira filosofia, a saber, aquela de São Tomás de Aquino.” (Pascendi, n. 45)
São Pio X propõe como antídoto a formação sólida no tomismo, a fidelidade à doutrina tradicional e a vigilância doutrinal nos seminários. O pastor que ama seu rebanho não permite que lobos se infiltrem disfarçados de ovelhas.
É preciso compreender que o combate de São Pio X não é apenas histórico. Ele continua vivo e atual. O modernismo não foi derrotado — ele apenas mudou de vestes, de linguagem, de métodos. Sua essência permanece: relativizar o dogma, desacreditar a fé, substituir a Igreja de Cristo por uma igreja mundanizada.
Mais do que nunca, é tempo de sermos vigilantes. “Não vos conformeis com este mundo” (Rm 12,2), adverte São Paulo. A Igreja não foi chamada a adaptar-se ao mundo, mas a converter o mundo com a verdade eterna do Evangelho.