Um gesto antigo e carregado de significado

A prática de beijar a mão de um sacerdote, bispo ou papa tem raízes antigas na Tradição da Igreja e possui um profundo significado teológico. Trata-se de um ato de reverência que vai além da pessoa concreta do ministro ordenado e se dirige à dignidade do Sacramento da Ordem que ele recebeu — e, por ele, à própria Pessoa de Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote.

Este gesto, muitas vezes incompreendido ou rejeitado por um falso igualitarismo moderno, é um sinal de fé na mediação sacramental da Igreja e no papel único que o sacerdote desempenha no plano da salvação. Como ensina o Catecismo da Igreja Católica: “Na pessoa dos ministros sagrados, é o próprio Cristo que está presente na sua Igreja” (CIC 1548).

Beijar a mão consagrada: veneração ao Cristo Sacerdote

A mão do sacerdote é ungida no dia de sua ordenação com o santo Crisma, em sinal da consagração total ao serviço de Deus e do povo. Com essas mãos, ele oferece o Santo Sacrifício da Missa, consagra o Corpo e Sangue de Cristo, perdoa os pecados, unge os doentes e abençoa o povo. São instrumentos do poder divino confiado à Igreja.

Santo João Maria Vianney, o Cura d’Ars, dizia com profunda convicção:

“Se compreendêssemos bem o que é um padre sobre a terra, morreríamos, não de pavor, mas de amor... O padre é o amor do Coração de Jesus.”

Beijar a mão de um sacerdote é, pois, um gesto de fé e amor ao Cristo que age por meio dele.

Um gesto reservado à hierarquia sagrada

É importante destacar que este gesto é tradicionalmente reservado aos ministros sagrados — bispos e sacerdotes — por causa do caráter ontológico e sacramental do sacerdócio ministerial. Também é prática comum, especialmente em relação ao papa ou aos bispos, o beijo do anel pastoral, símbolo da autoridade apostólica e da união esponsal com a Igreja local (no caso do bispo) ou universal (no caso do papa).

Esse gesto não é uma idolatria nem uma adulação à pessoa. É antes um ato de veneração ao ministério que aquele homem porta, como sucessor dos Apóstolos ou colaborador na vinha do Senhor.

Tradição e resistência ao igualitarismo secular

Na modernidade, marcada por uma ideologia horizontalista que rejeita qualquer forma de hierarquia ou sacralidade, o gesto de beijar a mão do sacerdote é muitas vezes ridicularizado ou descartado. No entanto, justamente por isso, é necessário resgatar seu valor como sinal contra-cultural, que reafirma a santidade do sacerdócio e a sacralidade do culto.

São Tomás de Aquino, refletindo sobre o devido culto que se presta às coisas sagradas, ensina:

“Os sinais exteriores da reverência são devidos, não só a Deus, mas também às pessoas e coisas que lhe são dedicadas” (S.Th., II-II, q. 84, a. 3).

Ao beijar a mão do sacerdote, honramos o Sacramento que o configura a Cristo Cabeça. Não veneramos o homem, mas a graça nele operante.

O beijo ao Papa e aos bispos

No caso dos bispos e do Santo Padre, além do aspecto sacerdotal, soma-se a dimensão da autoridade apostólica e do múnus de governo. O anel episcopal (e o anel do pescador, no caso do papa) é sinal visível dessa autoridade, e seu beijo expressa submissão filial, comunhão eclesial e amor à Igreja.

São Pedro, quando curava os enfermos, era procurado pelo povo não por si, mas pelo poder de Cristo que nele agia (cf. At 5,15-16). Assim também o beijo ao Papa ou ao bispo é um gesto de fé na missão confiada por Cristo aos seus Apóstolos e seus legítimos sucessores.

O beijo à mão do sacerdote ou ao anel do bispo e do papa é um ato profundamente cristocêntrico. Ele expressa a fé na presença de Cristo na sua Igreja e a veneração devida ao Sacramento da Ordem. Num tempo em que a sacralidade é diluída e o sacerdócio é banalizado, gestos como esse tornam-se preciosos sinais de fidelidade à Tradição e de amor à Igreja.